quarta-feira, agosto 26, 2009

A rosa



Estou aqui estou aqui não pretendi fugir nunca
o meu peito é sólido
o meu nome é sólido
o meu céu é sólido
o meu ar é sólido
as minhas dúvidas são sólidas

Acabei de jantar no Restaurante Chinês e olhei para as minhas mãos

estão inquietas como ontem
tremem como ontem
e ontem foi tudo
inquieto e trémulo como as minhas mãos

Não há nenhuma flor que resista à beleza da poesia de Paul Éluard
não é meu filho? repetia aquela mãe que eu nunca tive
e eu afirmava afirmava sempre
que nada neste mundo tem a força de uma rosa

oh a minha mãe era bela
todas as mães são belas
e eu só posso chamar-lhes meu amor

Quando a minha mãe morreu a cidade não tinha sombras
em Abril tinha recomeçado tudo
até as próprias sombras
e eu vesti-me de branco para dar o último beijo a minha mãe
no dia em que me senti pela primeira vez um homem
porque ao ficar de novo órfão
disse: É preciso ler Paul Éluard! e não
lhe dei simplesmente a minha rosa.

Joaquim Pessoa, visto no Palavras D'Ouro.

Foto retirada do Google

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Adorei! Não conhecia este poema. Beijos.

Fatyly disse...

Não conhecia e este poema é um hino à Mãe...triste mas cheio de sentimento.

Beijos

mfc disse...

Ele escreve lindamente.
É dos melhores poetas vivos que temos.

Mocho Falante disse...

Querida Wind, nem calculas como este poema me tocou fiquei completamente despido de todas as barreiras e deixei a emoção tomar conta de mim

beijocas