sexta-feira, agosto 14, 2009
Necrológio dos desiludidos do amor
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou no turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados completamente
(paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Carlos Drummond Andrade
Imagem Retirada do Google
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2 comentários:
Excelente este desiludidos...quantos não existem por aí?!!
Nunca gostei deste poema de Drummond, talvez use demasiado o "sentido figurativo ou metáfora" ou eu não chegue ao se âmago, mas desiludidos(as) há muitos(as) mas deverão descernir e não ir ao cúmulo dos cúmulos!
Um poeta não escreve só coisas bonitas, também escreve coisas que choquem sensibilidades, mas sempre numa vertente que mais goste: que aprendam e sigam caminho inverso...e neste não sinto isso:)
Beijocas e um bom serão
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