No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
E não deixam nada
No chão do medo
tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
E não deixam nada
Zeca Afonso
Imagem daqui
6 comentários:
FABULOSO! A grandeza e a imortalidade do Zeca, aliadas a uma expressiva montagem.
"Eles comem tudo
E não deixam nada", de facto, faltam-nos os cantores de verdade.
Wind,
Vem mesmo a propósito! A culminar uma muito boa série de textos, a lembrar que hoje se comemoram os 35 anos do 25 de Abril.
Por iso, Wind, um bom 25 de Abril, um bom fim de semana e um beijo.
Zeca Afonso sempre e sempre...e na melhor intervenção. Morreu tão novo mas deixou-nos um legado de verdade sentida.
A foto está soberba e de facto o gang dos tubarões não foram contabilizados:)
Beijos e um bom dia de LIBERDADE!
Fantásticas escolhas para este dia!! Muitos beijos.
Wind,
Sempre actual, o nosso Zeca.
Beijos grandes
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