sexta-feira, abril 03, 2009

Lição sobre a água



Este líquido é água.
Quando pura
É inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
Sob tensão e alta temperatura,
Move os êmbolos das máquinas que por isso,
Se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções, mas de um modo geral,
Dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
E ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
Sob um luar gomoso e branco de camélia,
Apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
Com um nenúfar na mão.

António Gedeão

Foto retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Este é um dos muitos belos poemas do António Gedeão...quanta honra estar junto dele, aqui!! Muitos beijos.

peciscas disse...

Lembro-me deste poema dito pelo Mário Viegas, aqui no Porto, teria eu uns 18 anitos.
O Gedeão (Professor Rómulo de Carvalho), tinha nos seus poemas, muitos conceitos científicos, designadamente de Física. Muita gente não sabe que ele foi autor de manuais escolares e de livros de divulgação científica.

alien aboard disse...

há um poema do Gedeão tb sobre água (embora um pouco mais salgada)k eu adoro vou partilha-lo ctg:

"Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio."

António Gedeão

besitooxxx