sexta-feira, março 27, 2009

A Sofreguidão de um Instante



Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.

José Jorge Letria

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Um sublime poema do J.J.Letria fantasticamente acompanhado pela foto...muitos beijos.

Fatyly disse...

Um poema todo ele cheio de afecto e carinho.
Gostei muito!

Beijocas e um bom dia