segunda-feira, março 02, 2009

As casas



As casas.
As casas e suas lembranças
passeando nos jardins ou debruçadas
no parapeito das janelas.

As casas com seus muros
oitão e quintais.
E suas gentes.

Casas com sorrisos de bom dia,
fuxicos nas calçadas e muita história
pendurada nos varais.

Casas com alegria, com parentes.
Tias, pais, irmãos, avós
e na esquina a padaria.
Mais à frente uma multidão.

Casas com nascente
poente e paz.
Casas do ocaso, bolo inglês
e um luar ao alcance das mãos.

Casas com as galinhas
e ao menos um galo das quatro da manhã.
Casas de alvorada, alvenaria.

Ah, casas.
Havia casas
que viviam conosco,
e mais nada.

Não as casas do amanhã.
Casas sem caso
Casas de ferro, xadrez.
As casas catamarã,
pequenas e que nos levam
ao décimo terceiro andar
em gaiolas com os passarinhos.
(E ainda há vez para esses bichinhos?)

Há casas que nos guardam
sozinhos, neuróticos.
Ao acaso.
Casas desacasaladas, descasadas.
Assexuadas ou hermafroditas.

Ah, casas malditas e desocupadas!
Estamos fartos
e noutro lugar!

Nessas casas, ao entrar,
só nos resta pedir de joelhos:

Dê-nos asas...
Dê-nos casas.

Lucas Tenório

Foto retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Casas são as casas. E as casas são a memória delas. Beijos.

Fatyly disse...

Há casas e casas e a pior de todas é a casa fechada do seu "eu" em que muitos se sentem aprisionados.

Muito original e gostei!

Beijocas e um bom dia

Mocho Falante disse...

Bem original sim senhor,

eu prefiro de facto as casas da primeira parte do poema, e é essas casas que quero que a minha pertença.

Beijocas