terça-feira, novembro 09, 2004

De "Poemas Inconjuntos"




Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se
estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das coisas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente
aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o
natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me
acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento
desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma
fatalidade sublime
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender só com a
inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer coisa que não fosse o Mundo.


Alberto Caeiro

Foto:Gonçalo Pereira

Para a
Lique

4 comentários:

wind disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Um grande poema dedicado a uma grande pessoa ;) bjs

lique disse...

Minha querida amiga, que te hei-de eu dizer? Muito obrigada por seres como és e por te teres lembrado de como eu gosto de Alberto Caeiro. Extraordinária a comunhão com os ritmos da natureza e a sua aceitação. Beijo grande o obrigada mais uma vez.

Anónimo disse...

Miga..... como já tive a oportunidade de te dizer "pessoalmente", este blog está muito bem conseguido...
Depois só queria agradecer mais uma vez por te teres lembrado do meu dia ;-)
Vai dizendo coisinhas.
beijo
Célia