terça-feira, novembro 02, 2004

Cecília Meireles

"A chuva chove"

A chuva chove mansamente...como um sono
Que tranquilize, pacifique, resserene...
A chuva chove mansamente...Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine...

E vem-me o sonho de uma véspera solene,
em certo paço, já sem data e já sem dono...
Véspera triste como a noite, que envenene
A alma, evocando coisas líricas de Outono...





"Canção"


Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.
O sentido está gravado
no rosto com que te miro,
neste perdido suspiro
que te segue alucinado,
no meu sorriso suspenso
como um beijo malogrado.
Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Esta tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem...
Só que aquele mesmo vento
fechou teus olhos, também...

Foto:A Brito

Sem comentários: