segunda-feira, novembro 01, 2004

Canção de estar em terra




Da sede meu amor farei um barco.
Uma vela no porto. E ao vê-la perto
eu direi meu amor que por ti parto
e fico e firo e faço e sigo e ardo.



Direi a rosa o cravo o trevo o cardo.
Darei o corpo, amor. Direi um astro.
Ai flor de quem está farto farto farto
de rimar contra a maré em pinho incerto.



Que mais direi amor? Eu que maldigo
eu que mal amo as coisas conquistadas
que mais direi? Anéis corais espadas?
Já mal me há-de bastar o que eu não digo.



É aqui, de bruços sobre a espuma
que o mar nos causa a dor de estar em terra.
E as palavras nos doem uma a uma.
E os homens em Lisboa fazem guerra.



Joaquim Pessoa

Foto:Nuno Jorge


3 comentários:

Henrique Dória disse...

Muito gratificante ler no teu blog um grande poeta injustamente esquecido: Joaquim Pessoa. Que belíssimo poema escolheste.
Um abraço.

Sara Mota disse...

Que imagem linda e que poema tão perfeito.

Gostei. :)

Sara
http://mundoajanela.blogspot.com

Anónimo disse...

coincidência: hoje de tarde estive a reler, de Joaquim Pessoa, Os Olhos de Isa.
Noite muitoespecial para ti :-)**