E assim me despeço de 2013:)
terça-feira, dezembro 31, 2013
segunda-feira, dezembro 30, 2013
sábado, dezembro 28, 2013
quinta-feira, dezembro 26, 2013
quarta-feira, dezembro 25, 2013
Lady Antebellum - Have Yourself A Merry Little Christmas
Desejo a todos um Bom Natal!:)
Foto:Isabel Cruz
terça-feira, dezembro 24, 2013
domingo, dezembro 22, 2013
sexta-feira, dezembro 20, 2013
quarta-feira, dezembro 18, 2013
segunda-feira, dezembro 16, 2013
sábado, dezembro 14, 2013
quinta-feira, dezembro 12, 2013
terça-feira, dezembro 10, 2013
domingo, dezembro 08, 2013
sexta-feira, dezembro 06, 2013
O meu poema teve um esgotamento nervoso.
O meu poema teve um esgotamento nervoso.
Já não suporta mais as palavras.
Diz às palavras: palavras
ide embora,
ide procurar outro poema
onde habitar.
O meu poema tem destas coisas
de vez em quando.
Posso vê-lo: ali distendido
em cama de linho muito branco
sem perspectivas ou desejo
quedando-se num silêncio
pálido
como um poema clorótico.
Pergunto-lhe: posso fazer alguma coisa por ti?
mas apenas me fixa o olhar;
fica a li a fitar-me de olhos vazios
e boca seca.
Daniel Jonas
Imagem retirada do Google
quarta-feira, dezembro 04, 2013
Dança
Eram a delicadeza, a graça.
Mas também a fúria
da gataria ardendo nos telhados.
São jovens e dançam – formosos
como as dunas, os trigos, os cavalos.
Eugénio De Andrade
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segunda-feira, dezembro 02, 2013
Paraíso
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira
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sábado, novembro 30, 2013
Sinais que no amor se adiantam
No teu olhar se esfuma e desvanece
A cidade onde o corpo por enquanto é preciso.
É quando a outra face do luar aparece
E o balir das ovelhas tem o som do meu riso.
Para tapar meu seio já nenhum astro tece
A roupa com que outrora saí do paraiso.
O pudor é da terra. Só por isso anoitece
E a nudez dos amantes é não darem por isso.
A semente do filho que em nós amadurece
Trouxe-a no bico a pomba que o seu reino prepara.
Por isso na cidade já ninguém nos conhece
Pois que ambos trazemos esse filho na cara.
Natália Correia
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quinta-feira, novembro 28, 2013
Da fala
Quando ainda não sabia as palavras possíveis
para passar entre voz e silênco dos outros,
tal como entre troncos das florestas mudas,
eu falava com as nuvens que vinham
sobre nós a cantar, de trémulas asas,
e aspergiam os aromas de êxtase.
Fiama Hasse Pais Brandão
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terça-feira, novembro 26, 2013
Meio dia
Contemplo a mulher adormecida. Ocupa uma metade do terraço, longa e voluptuosamente extensa, constelada de um siêncio que é todo aéreo e ondulante. Em volta o mundo converteu-se num pomar unânime. É um meio-dia interminável. Tudo está imóvel, fixo, como um centro. As superfícies lisas, brancas, sem reflexos, sem sombras. Imperceptível, insondável é o gesto fulgurante da imobilidade. A intensidade da presença identifica-se com o vazio da ausência. O meu corpo entende o corpo da mulher, enrola-se nas volutas da sua música silenciosa, adere às paisagens brancas do seu corpo completo. Imóvel, não procuro palavras, nem as mais leves e transparentes: sinto-me fluido, extremamente aberto. Conheço as sensações da mulher nua: água, terra, fogo e vento. Conheço-a e amo-a através delas, numa relação de felicidade intensa e ao mesmo tempo imponderável. O sono da mulher é de horizontes múltiplos e em si germina o centro abrindo o aberto sem limites.
António Ramos Rosa
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domingo, novembro 24, 2013
Amei demais
Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.
Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.
Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei
à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.
Joaquim Pessoa
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sexta-feira, novembro 22, 2013
Novembro
A respiração de Novembro verde e fria
Incha os cedros azuis e as trepadeiras
E o vento inquieta com longínquos desastres
A folhagem cerrada das roseiras.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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quarta-feira, novembro 20, 2013
O sorriso
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade
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segunda-feira, novembro 18, 2013
Tu és como uma terra
Tu és como uma terra
que ninguém jamais disse.
Tu não atendes nenhuma
senão aquela palavra
que do fundo brotará
como um fruto entre os ramos.
Há um vento que te toca.
Coisas secas e re-mortas
te chocam e vão no vento.
Membros, palavras antigas.
Tu tremes pelo estio.
Cesare Pavese
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sábado, novembro 16, 2013
Quero-te para além das coisas justas
Quero-te para além das coisas justas
e dos dias cheios de grandeza.
A dor não tem significado quando ma roubam as árvores,
as ágatas, as águas.
O meu sol vem de dentro do teu corpo,
a tua voz respira a minha voz.
De quem são os ídolos, as culpas, as vírgulas
dos beijos? Discuto esta noite
apenas o pudor de preferir-te
entre as coisas vivas.
Joaquim Pessoa
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quinta-feira, novembro 14, 2013
Queria que me acompanhasses
Queria que me acompanhasses
vida fora
como uma vela
que me descobrisse o mundo
mas situo-me no lado incerto
onde bate o vento
e só te posso ensinar
nomes de árvores
cujo fruto se colhe numa próxima estação
por onde as comboios estendem
silvos aflitos.
Ana Pula Inácio
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terça-feira, novembro 12, 2013
Trecho da Praia
Como por um ralo atrás da pupila,
vêem-me agir:
nada divide o caranguejo, dividindo
os lodos em seu sulco,
e também suas pinças se amotinam
à passagem, com sombra,
duma ave marinha…
E antes da chegada ascendente do mar,
ou que alguém module a voz
pela que da nuvem soou
no paraíso, amam-se na areia.
Enquanto do largo
o halo dum navio nocturno
se expande e irisa em seu redor.
Sebastião Alba
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domingo, novembro 10, 2013
Da voz das coisas
Fiama Hasse Pais Brandão
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sexta-feira, novembro 08, 2013
quarta-feira, novembro 06, 2013
Canção desesperada
Nem os olhos sabem que dizer
a esta rosa de alegria,
aberta nas minhas mãos
ou nos cabelos do dia.
O que sonhei é só água:
água ou só rumor do frio.
Nenhuma rosa cabe nesta mágoa.
Dai-me a sombra de um navio!
Eugénio de Andrade
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segunda-feira, novembro 04, 2013
Ecce Homo
Nunca amanhecera assim, num inimaginável
barracão perto da cidade gótica.
A sua casa.
Conhecia-o do Fandango,
e sabia apenas que uma tristeza sem lágrimas
lhe iluminava as tardes e as noites.
Dessa vez foi diferente. Eu acabara de partir
um copo no único pub ainda aberto
(a memória já não me devolve o nome).
Ele veio sentar-se ao meu lado, bêbedo
contra bêbedo, unidos pelo quase esplendor
da queda. Convidou-me a segui-lo e eu,
não sei bem porquê, acedi. Acompanhei-o
até às duas assoalhadas em que morava
– sem vizinhos, numa barraca de alumínio
e tabopan que fazia da palavra desespero
um eufemismo inoportuno. O cão,
pelo menos, gostou de nos ver chegar.
Depois chorou, a troco de nada. Queria apenas
um ombro concreto onde pousar a cabeça
que a mulher e as filhas já nem por engano
beijavam. Não precisava de gestos ou palavras,
bastava-lhe ser ouvido, partilhar o impartilhável
a que talvez chamasse (não me lembro bem) a dor.
Adormeceu assim, no meu ombro – e eu estava
capaz de matar (mas não a ele) por uma cerveja,
pelo gin que horas antes encontrara demasiado
cedo o chão. Ao amanhecer, abanei-o levemente,
disse-lhe que tinha mesmo de ir. Beijou-me
a mão, agradeceu com um sorriso estragado
aquele nada de nada entre dois homens
que nunca mais se voltarão a ver. Cá fora,
uma luz amordaçada desaconselhava qualquer
tentação lírica, vinha morrer nas couves,
nos dejectos vários que lhe tornavam menos só a solidão.
Não reconheci a cidade: pálida, desinteressante, reles.
Tremia de sono e frio ao entrar no primeiro
autocarro e quase acreditei – por algumas horas –
que existia, afinal, alguém ainda mais triste do que eu.
Manuel de Freitas
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domingo, novembro 03, 2013
sábado, novembro 02, 2013
Chuvinha cor de rosa
Cor de rosa
Está a cair uma chuva cor de rosa.
Juro que é assim:
os baguinhos lassos,
primeiro miúdos
depois bagos grossos
na luz do sol escondido,
o sol ainda dormindo,
o céu um gosto de rosado.
Cai uma chuvinha quase, quase de agosto.
Bagos pequeninos.
Um ruido de nada por aí tamborilando,
cada bago,
os bagos, uns a seguir aos outros.
Chuvinha de setembro,
chuvinha a seguir ao vento de sueste.
Gostosa esta chuva a marcar diferenças,
a dizer, mansinha, delicada:
olha que o verão acaba,
cuida de arrecadar para o inverno,
cuida de ver se a capa não estará rota,
se a manta não precisa de ser limpa
e a bota ensebada.
E o cachecol...
ai o cachecol... vê lá se o encontras.
Uma chuva cor de rosa,
juro!
Rosadinha de ser o dia no início.
Maria de Fátima
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quinta-feira, outubro 31, 2013
Teu rosto de desastres e tormentas
Teu rosto de desastres e tormentas
e risos lágrimas e sol e vento
teu rosto de marés e vagas lentas
em que o prazer é quase sofrimento
e risos lágrimas e sol e vento
teu rosto de marés e vagas lentas
em que o prazer é quase sofrimento
e o sofrimento é como rosa roxa
florindo devagar em tua boca
se a minha mão te chicoteia a coxa
e no teu corpo há uma égua louca.
Começam então as tuas doces queixas
e vais para um país onde desmaias
quando o sol no teu rosto acende flechas.
E eu temo que te percas e não saias
do abismo em que te abres e te fechas
de cada vez que te levanto as saias.
Manuel Alegre
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terça-feira, outubro 29, 2013
A água
No café trazem-me um copo com água
como se ele resolvesse todos os meus problemas.
É ridículo – penso – não há saída.
No entanto, depois de beber a água
fico sem sede.
E a sensação exclusiva do organismo
acalma-me por momentos.
Como eles sabem de filosofia – penso –
e regresso, logo a seguir, à angústia.
Gonçalo M. Tavares
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segunda-feira, outubro 28, 2013
domingo, outubro 27, 2013
Se quiseres que eu me perca
Se quiseres que eu me perca
buscarei outra ilha.
Esperarei a sombra diante dos olhos,
o milhafre na ravina de crisântemos.
Ao longe, correndo para a primeira luz do dia,
estarei à tua espera,
acenando com a mão esquerda,
avançando sobre o mar.
Não te esqueças,
aprendi um dia como deus nos traz um sono
leve que nos cega.
Rui Coias
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sexta-feira, outubro 25, 2013
quarta-feira, outubro 23, 2013
Cartão-Postal
v avião v v |
IO
Rio lua
DEJA
NEIRO
MEURIO
ZINHODEJANEIRO!MINHASÃOSEBASTIÃODORIODEJANEIRO!
CIDADEBEM-AMADA!AQUI ESTÁOTEUPOETAPARADIZER- TE
QUETEAMODOMESMOANTIGOAMOREQUENADANOMUNDO NEMMESMOAMORTEPODERÁNOSSEPARAR.
Aquiporeisssssssssssssssssssparafingirdomosaicodopasseio
aquiporeiTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTparafingirdepalmeiras
Emeponho eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu poraítudo
Quero brincar com a minha cidade.
Quero dizer bobagens e falar coisas de amor à minha cidade.
Dentro em breve ficarei sério e digno. Provisoriamente
Quero dizer à minha cidade que ela leva grande vantagem sobre todas as
[outras namoradas que tive |
[quais o número de buracos não contitui fator desprezível. |
[pelas ruas e lhe cantarei a seguinte modinha :
MODINHA
Existe o mundo
E no mundo uma cidade
Na cidade existe um bairro
Que se chama Botafogo
No bairro existe
Uma casa e dentro dela
Já morou certa donzela
Que quase me bota fogo.
Por causa dela
Que morava numa casa
Que existia na cidade
Cidade do meu amor
Eu fui perjuro
Fui traidor da humanidade
Pois entre ela e a cidade
Achei que ela era a maior!
Loucura minha
Cegueira, irrealidade
Pois realmente a cidade
Tinha, como é de supor
Alguns milhares de km2
E ela apenas, bem contados
Metro e meio, por favor.
Vinícius de Moraes
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terça-feira, outubro 22, 2013
Parabéns
Este blog faz hoje 9 anos.
Parabéns para ele:)
Não posso adiar o amor
Parabéns para ele:)
Não posso adiar o amor
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
António Ramos Rosa
Imagem retirada do Google
Icona Pop-I Love It
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
António Ramos Rosa
Imagem retirada do Google
Icona Pop-I Love It
segunda-feira, outubro 21, 2013
Paisagem
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem retirada do Google
sábado, outubro 19, 2013
quinta-feira, outubro 17, 2013
Rua Suja
Caminhando perdido que nem um louco
Caminho perdido na rua sem ti
Também ela perdida,
Suja, sem nexo
Um espaço sem confins
O último recanto do mundo
Caminho sem saber para onde vou
Onde ficar e com quem estar
Caminho nebuloso me conduz ao destino
Sem ti, uma vez mais,
Para percorrer um caminho de mãos dadas
Até que as rosas se reduzam a cinzas
Que jazem no chão, brilhantes, na rua suja
Procurando a imagem que desvanecera
A tua imagem, o meu motivo,
A loucura, o sentido, a razão de viver
A caminhar sem fim
Nesta rua, enfim
Sozinho que nem um louco perdido
Sem ti, sem ninguém, cai a noite
Cai a chuva também
Molhando os meus moribundos passos
Empurrando-me para o outro lado
Da rua, a mesma
À porta da tua casa
Continuo perdido
E perdido continuarei até me encontrar
Fazendo diluir a tua falta
Quando isso finalmente acontecer
Terei encontrado o caminho para casa.
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terça-feira, outubro 15, 2013
domingo, outubro 13, 2013
sexta-feira, outubro 11, 2013
Onde os lábios
Os lábios.
Distante, arrefecida chama.
Não só os lábios, também as estrelas
são distantes.
E os bosques. E as nascentes.
Também as nascentes são distantes.
As nascentes onde os lábios,
onde as estrelas bebem..
Só o deserto é próximo, só
o deserto.
Distante, arrefecida chama.
Não só os lábios, também as estrelas
são distantes.
E os bosques. E as nascentes.
Também as nascentes são distantes.
As nascentes onde os lábios,
onde as estrelas bebem..
Só o deserto é próximo, só
o deserto.
Eugénio de Andrade
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quinta-feira, outubro 10, 2013
quarta-feira, outubro 09, 2013
Tempo fluvial
Se eu definisse o tempo como um rio,
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens no céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.
Nuno Júdice retirado daqui
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terça-feira, outubro 08, 2013
segunda-feira, outubro 07, 2013
VI
Não te chamo para te conhecer
Conheço tudo à força de não ser
Peço-te que venhas e me dês
Um pouco de ti mesmo onde eu habite
Sophia de Mello Breyner Andresen
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sábado, outubro 05, 2013
Cada árvore é um ser para ser em nós
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
António Ramos Rosa
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quinta-feira, outubro 03, 2013
O drama silencioso da fotografia: Sebastião Salgado
http://www.ted.com/talks/sebastiao_salgado_the_silent_drama_of_photography.html
Podem colocar legendas em português clicando em "Show transcript"
Vale a pena ver !
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terça-feira, outubro 01, 2013
Sou o Espírito da treva
Sou o Espírito da treva,
A Noite me traz e leva;
A Noite me traz e leva;
Moro à beira irreal da Vida,
Sua onda indefinida
Sua onda indefinida
Refresca-me a alma de espuma...
Pra além do mar há a bruma...
Pra além do mar há a bruma...
E pra aquém? há Cousa ou Fim?
Nunca olhei para trás de mim...
Nunca olhei para trás de mim...
Fernando Pessoa
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domingo, setembro 29, 2013
Inventei a dança para me disfarçar.
Inventei a dança para me disfarçar.
Ébria de solidão eu quis viver.
E cobri de gestos a nudez da minha alma
Porque eu era semelhante às paisagens esperando
E ninguém me podia entender.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem retirada do Google
sexta-feira, setembro 27, 2013
quarta-feira, setembro 25, 2013
Balança
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
Eugénio de Andrade
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segunda-feira, setembro 23, 2013
Lua
Entre a terra e os astros, flor intensa.
Nascida do silêncio, a lua cheia
Dá vertigens ao mar e azula a areia,
E a terra segue-a em êxtases suspensa.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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sábado, setembro 21, 2013
Tua nudez
A rosa:
tua nudez feita graça.
A fonte:
tua nudez feita água.
A estrela:
tua nudez feita alma.
Juan Ramón Jimenez
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