quinta-feira, janeiro 29, 2009
Quero
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
dementes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Carlos Drummond de Andrade
Imagem retirada do Google
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3 comentários:
Uma bela colecção, Wind!
Excelente a Zélia Duncan, o poema do Ary a lembrar o Carlos do Carmo. E o José Luis Tinoco, que compôs a canção.
Adoro este poema do Drummond de Andrade! Beijos.
O brasileiro diz com uma facilidade incrível, já o português, excepto os mais novos, têm imensa dificuldade em dizer.
Drummond no seu melhor.
A foto fez-me lembrar um papelinho da minha adolescência e ironicamente existiu um D... :))))
Beijos e adorei este post!
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