terça-feira, janeiro 20, 2009

É ela! É ela! É ela! É ela!



É ela! é ela! — murmurei tremendo,
e o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura —
a minha lavadeira na janela.

Dessas águas furtadas onde eu moro
eu a vejo estendendo no telhado
os vestidos de chita, as saias brancas;
eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido,
nas telhas que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
um bilhete que estava ali metido...

Oh! decerto... (pensei) é doce página
onde a alma derramou gentis amores;
são versos dela... que amanhã decerto
ela me enviará cheios de flores...

Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! é ela! — repeti tremendo;
mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Álvares de Azevedo

5 comentários:

Paula Raposo disse...

Puro romantismo...beijos.

Mocho Falante disse...

Mais um belo exemplo de poesia romantica que só a nossa Wind descobre e partilha

beijocas

Fatyly disse...

"É ela! é ela!" que descobre poesia fantástica, cheia de encanto, que me faz vir aqui sempre que posso...repito várias vezes:))))

Este não conhecia e como o romantismo é tão aconchegante.

Beijos e um BOM DIA!

peciscas disse...

Romântico mas irreverente e divertido.
Assim o li.

Alien8 disse...

Wind,

A desgraça do ultra-romantismo :)