terça-feira, junho 03, 2008
Soneto de Áspera Resignação
Não me digas segredos nessa voz
em que dizes também o que não dizes.
Fica o silêncio ainda mais atroz
depois de entremostradas as raízes.
Prefiro que não digas nada, nada.
Que não sejas arbusto nem canção,
mas sombra entreaberta, recortada
por um lívido e breve coração.
Já que não podes dar-me o que eu sonhara
- inteireza de ramos e raiz -,
ao menos dá-me, intacta, a sombra clara
onde se esbatam vultos e perfis.
Pois nesta solidão melhor é ter
a sombra que um segredo de mulher.
David Mourão-Ferreira
Foto:Manuel Holgado
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6 comentários:
Mais um belo poema de amor do David, onde transparece todo o encantamento do sonho e da fantasia.
David Mourão ferreira...poeta das mulheres
que belo!
beijos
Quem me dera saber escrever assim.
Excelente escolha, como é teu hábito.
Beijinhos.
Wind,
Hoje viajei de José Régio (que li de novo, apesar de já o ter comentado, porque vale a pena!) a David Mourão-Ferreira. Maravilhoso, este soneto.
Continuas também a escolher fotos belíssimas. E atenta aos assaltos!
Um beijo.
Já disse e repito que é um prazer ler David Mourão Ferreira!! Lindo!
É sempre apaixonante ler a poesia do David.
Um beijo
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