domingo, junho 01, 2008
Esboço para a invenção de uma poetisa
De que me serviram as tranças,
Minha mãe, com que sonhavas
Conservar-me a inocência
Que eu não tinha?
Para quê a vigilância
Das leituras que eu fizesse
Que eu fizesse e que eu faria
No prazer entrecortado
Do pecado vigiado?
Que é do marido perfeito,
Feito dos restos do outro
Que sonhaste
E não achaste
E julgaste que me estava reservado?
Onde estão a segurança,
O sossego, a plenitude
Da mulher que fabricaste
Como quem põe a pousada
Na paisagem da altitude?
De que serviu tanta hora
A guiar-me,
A desviar-me,
Senão também,
Minha mãe!
Para que eu misto de esperança
E, como tu, de vingança
Não deixasse
Que a filha da minha carne
As suas tranças cortasse,
Sua leitura escolhesse,
E com firmeza afastasse
O marido que eu lhe desse.
Reinaldo Ferreira
Foto:Yuri Bonder
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Ainda há quem haja assim e ache que os pais é que devem decidir o casamento das filhas.
A imagem para variar é óptima.
Bjks
hoje andei por aqui...já deves ter notado...aos fins de semana, pois...mas assim tenho tempo para ler e reler tuas escolhas...sempre excelentes
jocas maradas ....sempre
Enviar um comentário