quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Corpo habitado



Corpo num horizonte de água,
corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido 
pelo sol dócil da língua.

Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,
corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor das espigas,
respirar
a doçura escuríssima das silvas.

Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres, 
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.

Corpo para beber até ao fim -
meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação.

Eugénio de Andrade

Imagem retirada do Google

7 comentários:

Fatyly disse...

Sensual qb para o tornar tão belo. Gostei!

Beijos

Anónimo disse...

Corpos para comer eu conheço os da Danone, agora para beber, e ainda por cima até ao fim, não estou a ver, não!

wind disse...

A tu e as metáforas.lololol

wind disse...

Não queria escrever metáforas, queria escrever, sentimentos, beleza:)

wind disse...

Paixão!

Anónimo disse...

Metáforas? Sentimentos? Beleza? Paixão?

Decide-te eheheh
Bj

wind disse...

Paixão!lololol