Corpo num horizonte de água,
corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da língua.
Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,
corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor das espigas,
respirar
a doçura escuríssima das silvas.
Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.
Corpo para beber até ao fim -
meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação.
Eugénio de Andrade
Imagem retirada do Google
7 comentários:
Sensual qb para o tornar tão belo. Gostei!
Beijos
Corpos para comer eu conheço os da Danone, agora para beber, e ainda por cima até ao fim, não estou a ver, não!
A tu e as metáforas.lololol
Não queria escrever metáforas, queria escrever, sentimentos, beleza:)
Paixão!
Metáforas? Sentimentos? Beleza? Paixão?
Decide-te eheheh
Bj
Paixão!lololol
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