Uma lâmina de arAtravessando as portas. Um arco,Uma flecha cravada no outono. E a cançãoQue fala das pessoas. Do rosto e dos lábios das pessoas.E um velho marinheiro, grave, rangendo o cachimbo comoUma amarra. À espera do mar. Esperando o silêncio.É outono. Uma mulher de botas atravessa-me a tristezaQuando saio para a rua, molhado, como um pássaro.Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe seDa minha revolta última. Ou do teu nome que repito.Hoje há soldados, eléctricos. Uma paredeCumprimenta o sol. Procura-se viver.Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-seComo se, de repente, não houvesse mais nada senãoA imperiosa ordem de (se) amarem.Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.Não há palavras que descrevam a loucura, o medo, os sentidos.Não há um nome para a tua ausência. Há um muroQue os meus olhos derrubam. Um estranho vinhoQue a minha boca recusa. É outono.A pouco a pouco despem-se as palavras.
Joaquim Pessoa
Imagem retirada do Google
2 comentários:
Um poema belíssimo! Beijinhos.
Gostei.
Bj
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