sexta-feira, novembro 23, 2012

Crepuscular



A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.


Nuno Júdice

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Anónimo disse...

Asas para que vos quero...

Bj

Anónimo disse...

Não conhecia. É bonito. Confesso que sou ignorante em termos poéticos, mas gostei, sinceramente gostei. Bom jogo de palavras de Nuno Júdice.

Beijinhos.

Fatyly disse...

Excelente...como sempre!

Beijocas e um bom sábado!