sábado, novembro 03, 2012

A parte do anjo



Bebeste-me de um trago
ou pausadamente
como quem testemunha um desastre?

As flores  suadas que outrora
pontuavam a fita do teu rosto
arrepanham-se agora inférteis.

Deves regá-las delicadamente
como era hábito fazer às madeiras fúteis
onde os corpos reabilitavam a sede.

Ornatos, nichos reservados aos olhos
mais fulgentes, de tudo isso guardo
apenas o sumo demorado da pele.

Bebeste-me de um trago,
perguntei, ou pausadamente
como quem se evapora de si?

Vasco Gato, in"Este é o Meu Sangue", pág.21, Tea For One, 2012

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Fatyly disse...

Não conhecia e embora um pouco complexo...gostei!

Beijocas

Anónimo disse...

É mesmo caso para dizer: aqui há Gato!!!
:)
I liked.

Beijo

Nilson Barcelli disse...

Por vezes, não sabemos o "uso" que os outros fazem de nós.
Magnífico poema, foi uma boa escolha.
Bom domingo.
Beijo.