quinta-feira, abril 28, 2011
Poema da menina do higroscópio
Quando o velho do higroscópio desaparecer no fundo da casota de
[madeira
E a menina do higroscópio do cesto assomar à portinha do lado,
hei-de ir contigo passear ao campo.
Andando, poisarei o meu braço no teu ombro
e com dedos de amor beliscarei
o lóbulo macio da tua orelha.
Quando a menina do cesto assomar à portinha do higroscópio
de laçarotes nas tranças,
a grande saia rodada, azul da Prússia,
com três barras vermelhas,
e o cesto a transbordar de flores e frutos,
hei-de ir contigo passear no campo.
Oculta na floresta, a casota florida do higroscópio,
tem o telhado erguido em ângulo agudo
para que a neve escorra,
e uma grinalda de malmequeres amarelos a bordar o beiral,
Enquanto a corda de tripa não puxar o velho para dentro da
casota
e com ele as asas de grilo da sua labita preta,
baterei com os pés no chão para aquecer, e esperarei
que a menina do cesto assome na portinha do lado.
Assim que ela assomar, estremunhada e surpresa,
ébria do sol, tonta do cheiro das flores,
hei-de ir contigo passear ao campo.
Iremos pelos atalhos
e sobre ti me deitarei na terra.
Encostado ao teu corpo
ouvirei as abelhas pairando sobre as flores como helicópteros
e o surdo escorrer dos grãos de pólen
buscando o óvulo, deflagrando nele
a primavera eterna.
Quando a menina do cesto assomar à portinha do higroscópio
e os pássaros de gesso debicarem as pontas dos seus tamancos,
Oh! como vai ser bom!
mesmo que tu não venhas nem existas,
hei-de ir passear ao campo.
António Gedeão
Imagem retirada do Google
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2 comentários:
O fabuloso imaginário talvez mais...metáforas de António Gedeão...adoreiiiiii!
Beijocas e um bom dia
Claro que só posso dizer que gostei.
Linda foto.
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