quarta-feira, janeiro 30, 2013

Correspondência



Vejo as nuvens que avançam do Atlântico
para o continente. E, por trás delas, como um pastor
exigente, o vento que as empurra. Depois,
as nuvens passam e volta o sol, com o azul
imutável das manhãs de outono, monótono e distante
como quem o olha, ao sair de casa, sem
tempo para pensar no tempo.
As nuvens, no entanto, continuam
o seu caminho: umas, desfazem-se em água
sobre campos vazios, ou descem para as grandes
cidades para as abraçar com um tédio
enevoado. As que me interessam, porém,
são as que sobem para norte, e ficam
mais frias à medida que as pressões continentais
abrandam o seu curso, Então, param
em dias cinzentos; e, por fim, escurecem
a tua alma, quando as olhas, e te apercebes
de que se aproxima um inverno
de solidão.
A não ser que leias, nesse obscuro céu,
esta carta que te mando.

Nuno Júdice

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Anónimo disse...

Nuno Júdice sabe quão importante é 'entregar a carta a Garcia'.

Bj

Fatyly disse...

E há que aprender a ler cartas, não as da Maya:) mas saídas para colmatas o que o poeta diz.

Não conhecia e gostei!

Beijos

Anónimo disse...

Cartas da Maya?? Tentem antes consultar o Prof. Karamba ou o Bambu. Eles fazem "sucesso onde todos os outros falham" e concedem "facilidade de pagamento" apenas depois de "resultados comprovados"...