quarta-feira, fevereiro 02, 2011
Soneto de áspera resignação
Não me digas segredos nessa voz
em que dizes também o que não dizes.
Fica o silêncio ainda mais atroz
depois de entremostradas as raízes.
Prefiro que não digas nada, nada.
Que não sejas arbusto nem canção,
mas sombra entreaberta, recortada
por um lívido e breve coração.
Já que não podes dar-me o que eu sonhara
- inteireza de ramos e raiz -,
ao menos dá-me, intacta, a sombra clara
onde se esbatam vultos e perfis.
Pois nesta solidão melhor é ter
a sombra que um segredo de mulher
David Mourão-Ferreira
Imagem retirada do Google
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5 comentários:
E se mais fosse preciso para qualificar o ser " Mulher "... creio que este poema já diria o bastante.
Tudo de bom para ti,
David Mourão-Ferreira é sempre certificado de qualidade.
Saudades
Sempre excelente David! Sem palavras...
Beijos.
Forte...de quem deixou "raízes". Adorei!
Beijocas
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