sábado, janeiro 15, 2011

Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas



Há uma mulher que desenrola os seus cabelos nas sílabas
e perfuma-as com o odor da sua lenta vulva
Ela tanto pode ser uma fêmea da lua como uma rapariga solar
Nas suas ancas ondula um indolente outono e nos seus seios desponta a primavera

Eu vejo-a e não a vejo na brancura da página
porque ela flutua vagamente na distância como uma lua no meio-dia
Mares bosques clareiras fontes em delicadas e delgadas linhas
fluem com o fulgor dessa mulher azul
As palavras caminham com o ritmo fresco dos seus pés descalços
sobre uma praia fulva de conchinhas brancas
O seu hálito doce embriaga as frases nuas
Ela é a presença ausente corpo de aragem viva
e a sua felicidade é tão vaga como vaga a sua longínqua imagem.

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Poema sublime!!
Beijos.

Fatyly disse...

Sensualidade qb para o tornar lindissimo. Não conhecia e gostei bastante.

Beijocas