quinta-feira, outubro 07, 2010

Desde a aurora



Como um sol de polpa escura
para levar à boca,
eis as mãos:
procuram-te desde o chão,
entre os veios do sono
e da memória procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas:
vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:
é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago:vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.
Sou eu,desde a aurora,
eu-a terra-que te procuro.

Eugénio de Andrade

Imagem retirada do Google

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Sublime!!

Anónimo disse...

Muito bom.

Imagem espectacular.

Fatyly disse...

Subscrevo as palavras de Paulo e Observador e a imagem é maravilhosa.

Beijocas e um bom dia

Anónimo disse...

Lá tenho que meter uma colherada.
Fatyly, viste aqui algum Paulo?
Ou quiseste dizer Paula?

Ai a menina...

E agora piro-me.
;)