segunda-feira, novembro 16, 2009

Soneto do amor difícil



A praia abandonada recomeça
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor, somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio de morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe
de súbito surgido à flor dos limos.

E deste amor difícil só nasceu
desencanto na curva do teu céu.

David Mourão-Ferreira

Foto:Igor L.

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Mais um poema belíssimo de DMF!!Beijinhos.

Fatyly disse...

Profundo e sonante, muito sonante. Adorei!

Beijos chuvosos

Angela Ladeiro disse...

Sempre gostei de Mourão Ferreira. Tive a sorte de o ter por professor, pouco tempo, mas intenso...

Nilson Barcelli disse...

Lindos poema e foto
Beijos