quinta-feira, novembro 26, 2009

Quero a fome de calar-me



Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra
Que trago para sentar-me no banquete

A única glória no mundo — ouvir-te. Ver
Quando plantas a vinha, como abres
A fonte, o curso caudaloso
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo

Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa
Chaga do pastor
Que abriu o redil no próprio corpo e sai
Ao encontro da ovelha separada. Cerco

Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes
A flor — várias árvores cortadas
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos
Seguem a linha do canivete nos troncos

As mãos acima da cabeça adornam
As águas nocturnas — pequenos
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas

Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança

Daniel Faria

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Um bonito post com a foto bem escolhida.
Beijinhos.

Fatyly disse...

Já tinha lido alguma de Daniel Faria mas não conhecia este e gostei imenso.

Beijocas e uma boa tarde

lena disse...

o poeta que adoro ler, o poeta que cedo partiu mas que continua entre nós

um dos seus mais belos poemas

obrigada por o trazeres aqui

beijo meu, um abraço tão carregado de ausências minhas


lena