sábado, novembro 07, 2009

Claridade



Clareou.

Vieram pombas e sol,
E de mistura com o sonho
Posou tudo num telhado...
Eu destas grades a ver
Desconfiado

Depois
Uma rapariga loura
(era loura)
num mirante
estendeu roupa num cordel:
roupa branca, remendada
que se via
que era de gente lavada,
e só por isso aquecia...

E não foi preciso mais:
Logo a alma
Clareou por sua vez.
Logo o coração parado
Bateu a grande pancada
Da vida com sol e pombas
E roupa branca, lavada.

Miguel Torga

Foto retirada do Google

2 comentários:

Fatyly disse...

Basta uma simples paisagem para "clarear a nossa alma".
Lindissimo!

Paula Raposo disse...

Tão lindo este poema!!
Beijos.