quarta-feira, maio 27, 2009

Balada do bom cavaquista



Que eu sempre fui bom cavaquista
nem é preciso repeti-lo:
anos depois já só se avista
tanto canário, tanto grilo,
tanto gorjeio, tanto trilo
que de promessas se guarnece:
um mundo e outro, isto e aquilo,
e o povo tem o que merece.
vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era do estilo.
economia? ai que arrefece!
vi portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.
vi muito pássaro na pista
já de asa murcha e intranquilo,
já sem alface nem alpista
e já sem grão dentro do silo,
secou a teta e o mamilo,
chegou a hora, chega o stress.
há vários anos que eu refilo,
e o povo tem o que merece.
senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse
e o povo tem o que merece.

Vasco Graça Moura, visto no Palavras D'Ouro

Imagem daqui

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Concordo. Beijos, Isabel.

peciscas disse...

O problema é que o Vasco G. Moura é um bocado suspeito e, se calhar também um tanto responsável pelo estado a que isto chegou...