quarta-feira, dezembro 05, 2012

Pesca



O humilde pescador nocturno
aguarda que um peixe se deslumbre
com o brilho da hélice desligada
sob o silêncio cúmplice das estrelas
e abraçado à botija de aguardente
não reclama sequer a sua presa
antes aguarda a incerta esmola
que o mar complacente às vezes nega.

O humilde pescador nocturno
aguarda que um peixe se distraia
com o seu barco que em soluços sincopados
respira levemente sobre as ondas,
enquanto os olhos reclinados sobre as águas
reconhecem o perfil do horizonte
e quase se perdem na contemplação dos astros
e quase se afogam na noite de diamantes.

Manuel Filipe, in"Via de Curetes", pág.37, Edição do Autor

Imagem retirada do Google

5 comentários:

Fatyly disse...

Tinha assinalado no livro este poema para editar...porque é um dos mais belos que li e fizeste muito bem. Ganhou ainda mais com a foto que puseste:)

Beijos e um bom dia

Anónimo disse...

Os pescadores tinham uma vida difícil. Hoje, atendendo à situação em que se encontra a pesca portuguesa, o difícil é encontrar pescadores.
Sinais dos tempos.

Anónimo disse...

Se os pescadores nunca tiveram uma vida fácil - e diz bem o FireHead - continuam a não a ter.
Por efeitos de uma política ditada, há muito, pela integração europeia, ah pois!

Encontrar pescadores, agora? Só em poemas.

Bj

Jota Effe Esse disse...

Que lindo e tocante poema! Meu abraço.

Anónimo disse...

Observador,

Não era suposto a entrada na então CEE fazer o nosso país "andar para a frente"? :P