quarta-feira, fevereiro 29, 2012
O búzio de Cós
Este búzio não o encontrei eu própria numa praia
Mas na mediterrânica noite azul e preta
Comprei-o em Cós numa venda junto ao cais
Rente aos mastros baloiçantes dos navios
E comigo trouxe ressoar dos temporais
Porém nele não oiço
Nem o marulho de Cós nem o de Egina
Mas sim o cântico da longa vasta praia
Atlântica e sagrada
Onde para sempre a minha alma foi criada
Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem retirada do Google
segunda-feira, fevereiro 27, 2012
sábado, fevereiro 25, 2012
Passa uma ave de sombra
Avançar desfazendo
os nós dos nomes
aceitando a oferta nua
na sua abolição
Passa uma ave de sombra
entre as virilhas do sol
e sob a cálida abóbada
a duração redonda
nos seus anéis de pólen
flui sem ecos
A amêndoa do estio
consagra
a lentidão clara
do sossegado desejo
de não ser nada
António Ramos Rosa
Imagem retirada do Google
quinta-feira, fevereiro 23, 2012
A hera
A meticulosa beleza do real
Onda após onda pétala a pétala
E através do pano do toldo
A sombra aérea da hera
Tecedora incessante de grinaldas.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem retirada do Google
terça-feira, fevereiro 21, 2012
domingo, fevereiro 19, 2012
Rapariga descalça
Chove. Uma rapariga desce a rua.
Os seus pés descalços são formosos.
São formosos e leves: o corpo alto
parte dali, e nunca se desprende.
A chuva em Abril tem o sabor do sol:
cada gota recente canta na folhagem,
O dia é um jogo inocente de luzes,
de crianças ou beijos, de fragatas.
Uma gaivota passa nos meus olhos.
E a rapariga - os seus formosos pés -
canta, corre, voa, é brisa, ao ver
o mar tão próximo e tão branco.
Eugénio de Andrade
Foto:Eli
sexta-feira, fevereiro 17, 2012
De nenhum olhar I
Hoje o tempo não me enganou. Não se conhece uma aragem na tarde. O ar queima, como se fosse um bafo quente de lume, e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor. Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfados de nuvens. E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente não ande debaixo do céu mas sim em cima dele; talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu
Jose Luis Peixoto
Foto:Eli
quarta-feira, fevereiro 15, 2012
Kagemu- Paris -2011
Última apresentação do Kagemu em Paris, uma união criativa entre o bailarino Katsumi Sakakura, do Orientarhythm, e o artista Nobuyuki Hanabusa que, juntos, conceberam o espetáculo Black Sun.
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segunda-feira, fevereiro 13, 2012
O mar
Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se caem
amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
ó eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes
ó mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!
António Ramos Rosa
Foto:Eli
sábado, fevereiro 11, 2012
O anúncio do ano - MAGNUM
http://pleasurehunt.mymagnum.com/
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quinta-feira, fevereiro 09, 2012
Em louvor do poeta anónimo
Tinha a idade de uma flor
Em seu enleio embebida
E a viola era o seu modo
Amante de estar na vida.
No amor nascera o rio
Que o coração lhe inundava.
Nascera o rio no amor
Mas o fim não lhe enxergava.
De cada vez que tocava
No infinito se perdia
Do corpo dessa viola
que mais amor lhe pedia.
Ficou entre nós o tempo
Que fica uma andorinha
Deu-nos essa Primavera
Porque deu tudo o que tinha.
Foi-lhe o corpo atrás da alma
Que lhe pedia mais amor.
O seu nome ninguém sabe.
Dizem que era Trovador.
Natália Correia
Imagem retirada do Google
terça-feira, fevereiro 07, 2012
domingo, fevereiro 05, 2012
Nascimento último
Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono,germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite,lentamente,sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono,na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento,na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui,o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser,os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
António Ramos Rosa
Imagem retirada do Google
sexta-feira, fevereiro 03, 2012
quarta-feira, fevereiro 01, 2012
Sacode as nuvens
Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar,
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que tu respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem retirada do Google
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