quinta-feira, junho 16, 2011
Navegava no navio da matéria
Navegava no navio da matéria
a melodia da sede cintilava
sob o pólen branco do silêncio
Sobre o veludo unânime das veias
viu as corolas e os cálices dos fósseis
os pássaros de seiva
os diamantes de musgo
a voluptosa água da semelhança viva
O cristal da concha mais secreta
era negro sob a sombra ferida
e verde
e a sua língua era uma chama branca
aberta como um livro
Abeirou-se de uma crespa cabeleira negra
entre sumptuosas luas
viu as sinuosas artérias entre as asas de areia
a oscilação rítmica de um ventre
como uma lisa viola de coral
e bebeu a espessa água da profunda floresta
Na sua sede extrema na sua fragilidade pura
acariciava os veios dos astros vegetais
o flutuante tronco primaveril e arcaico
em que lábios adormecidos se ofereciam
num cálido sopro polvilhado de pólen
Era uma ânfora na duna era um barco fendido
de cintilante mercúrio
era uma ilha de pálpebras
uma mulher de flancos de nascente
e de câmaras de verdura
era a lenta pátria da terra o continente azul
do silêncio do nascimento solar
para adormecer sem espelhos
aos rés do horizonte
António Ramos Rosa
Imagem retirada do Google
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Belíssimo de sensualidade!
Beijos.
Concordo com Paula Raposo! De facto com sensualidade qb para o tornar maravilhoso!
Beijocas
Um texto ... very special.
;)
Enviar um comentário