Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
Augusto Gil
Imagem retirada do Google
4 comentários:
Gosto mais destas duas versões:
Bate leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será ganza? Aguardente?
Vodka não é, certamente
e abssinto não bate assim.
Bate leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Ó c@r@lh0,
são testemunhas de Jeová!
:)
Este poema que sei de cor é dos mais belos e comovente de e para sempre.
Obrigado por o recordares.
Beijocas e lá vou eu
Um clássico, mas sempre agradável de ler.
Querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.
A minha versão preferida é:
Batem leve levemente
Como quem chama por mim
Será o Delgado derá o Vicente?
Salazar não é certamente e a PIDE não bate assim
:-)
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