domingo, abril 01, 2012
O pastor amoroso perdeu o cajado
O pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu.
Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem,
estão presentes.
(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco
nos pulmões)
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor,
uma liberdade
no peito.
Alberto Caeiro
Imagem retirada do Google
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3 comentários:
A liberdade que todos não devemos deixar de sentir. Foi bom reler e a foto é lindíssima.
Beijos e um bom dia
Leio e releio os poemas do Fenando Pessoa sem me cansar deles. Porque há sempre algo de novo que se vislumbra...
Isabel, querida amiga, tem uma boa Páscoa.
Beijos.
Há coisas que não consigo comentar.
Dizer o quê se está lá tudo?
Bj
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