"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer." Einstein
Talvez não ser, é ser sem que tu sejas, sem que vás cortando o meio dia com uma flor azul, sem que caminhes mais tarde pela névoa e pelos tijolos, sem essa luz que levas na mão que, talvez, outros não verão dourada, que talvez ninguém soube que crescia como a origem vermelha da rosa, sem que sejas, enfim, sem que viesses brusca, incitante conhecer a minha vida, rajada de roseira, trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és E desde então és sou e somos... E por amor Serei... Serás...Seremos...
E o tempo tomou forma. Assim me soube Envolta em grande mar até a cintura E nada a não ser água e seu rumor Aos ouvidos chegava. E soube ainda Que um só gesto e sopro acrescentava Essa vastíssima matéria. E atenta Em consideração a mim, cobri-me de recuos. Eu, que de docilidade me fizera.
Antes avara desse tempo que resta. Se em muitos me perdi, uma que sou É argamassa e pedra. Guardo-te a ti. Em consideração a mim. Redescoberta.
Olheiras perplexas deliram perguntas que roem as unhas das horas que passam e estas insones qual arame farpado bordam respostas de pedra que convidam ao quebranto que doem sem clemência que ferem sem vergonha e morrem sem vontade enquanto a madrugada esvai-se gota a gota e o perfil da aurora entre um bocejo e outro pendura-se nos olhos da noite que agoniza ao passo que a alvorada cumprindo seu destino floresce pontualmente e inventa um novo dia.
Dizem que o amor é cego, não nego, por isso te abro os olhos: não tenho bens nem alqueires, eu não sou flor que se cheire, nem tão boa cozinheira, (bem capaz que ainda me piches por só comer sanduíches), minha poesia é foleira, tenho idéias de jerico, um cio meio impudico como as cadelas e as gatas, às vezes me torno chata por me opor ao que contemplo, sei que sou péssimo exemplo, por pouca coisa me grilo, talvez por mim percas quilos, eu não sei se valho a pena, iguais a mim, há centenas, desejo te ser sincera. Mas no fundo o amor espera que grudes qual carrapicho: são tão grandes meu rabicho e minha paixão por ti, que não estão no gibi... Ao te ver, viro pamonha, sem ação, e sem vergonha o meu ser inteiro goza. Por isso, pra encurtar prosa, do teu corpo, cada poro eu adoro adoro adoro...
O que há em mim é sobretudo cansaço Não disto nem daquilo, Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada - Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser...
E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, Um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço...
Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte E em que o sono parecia disposto a não vir Fui estender-me na praia sozinho ao relento E ali longe do tempo acabei por dormir
Acordei com o toque suave de um beijo E uma cara sardenta encheu-me o olhar Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar
Sou a estrela do mar Só ele obedeço, só ele me conhece Só ele sabe quem sou no principio e no fim Só a ele sou fiel e é ele quem me protege Quando alguém quer à força Ser dono de mim
Não se era maior o desejo ou o espanto Mas sei que por instantes deixei de pensar Uma chama invisível incendiou-me o peito Qualquer coisa impossível fez-me acreditar
Em silêncio trocámos segredos e abraços Inscrevemos no espaço um novo alfabeto Já passaram mil anos sobre o nosso encontro Mas mil anos são poucos ou nada para a estrela do mar.
queres? queres algo? queres desejar? desejas querer? desejas-me? desejas querer-me? queres desejar-me? queres querer-me? queres que te deseje? desejas que te queira? queres que te queira?
quanto me queres? quanto me desejas? ah quanto te quero quando te quero quando me queres...
Odeio o uso do modo imperativo. Se me dizem, cala-te!, eu canto. Se me dizem esconde-te!, eu exponho-me. Quando me ordenam que me vista, me desnudo. Se me mandam expor, vou pró meu canto. Quando me querem falante, eu sou muda. Se me fazem gritar, eu silencio. Se me tentam excitar eu fico queda, Se me querem gelada, fico em cio.
Sou égua de raça pura e alma leda, Crinas ao vento e ventas de fome, À espera de um jokey que me dome.
Quem julga que me domou, bem se engana. Que eu só sonho... na minha própria cama.
A tua pura integridade delicada a tua permanente adolescência de segredo a tua fragilidade acesa sempre altiva Por ti eu sou a leve segurança de um peito que pulsa e canta a sua chama que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro ou à chuva das tuas pétalas de prata Se guardo algum tesouro não o prendo porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto que dure e flua nas tuas veias lentas e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva para que sintas a verde frescura de um pomar de brancas cortesias porque é por ti que vivo é por ti que nasço porque amo o ouro vivo do teu rosto.
O melhor beijo é o beijo desejado, o beijo que me completa, o beijo da minha forma adequada, o beijo com o sabor do desejo na flor da minha pele, o beijo da minha vontade, o beijo que faz o meu pensamento, o beijo que faz a minha boca e meu corpo querer um novo beijo outra vez e mais outra vez. O melhor beijo é o beijo sem tempo, o beijo de longa duração ou de pouca duração, um beijo de vinte segundos ou de vinte minutos, isto não importa. O tempo não conta, enquanto se beija o tempo para, o tempo freia. E nesta inércia do tempo só sinto a louca vontade do outro. Sinto a outra língua que de encontro com a minha faz um passeio suave e excitante umedecendo minha alma. Sinto a língua que viaja dos dentes ao céu da boca. Sinto a língua que acarinha os meus lábios. A língua e a língua... A língua que me roça, que me percorre, que me navega e que me lambe... O melhor beijo é o beijo em que a língua faz o beijo e o beijo faz o sexo.
Vi a reportagem na SIC e chamei nomes sózinha. Entretanto a Caracolinha avisou-me para passar palavra afim de assinar a petição que se encontra no fim deste link , que explica o que sucedeu.
Leiam por favor e assinem, porque aquilo não é uma pessoa, é um bárbaro!
Não sei como vieste, mas deve haver um caminho para regressar da morte. Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.
Marta, Protagonista da tragédia ideada E que eu não fiz, De esperara que eu a criasse, No meu intuito adormeceu feliz. Dormiam lá também o sono antigo Ilda, Miguel, A lírica Raquel, E todos quantos Acham não ser comigo.
Aromas só E pó antes do pó.
Agora chamo-a em vão, Como quem vê levar, E não entende, Um filho no caixão. E absurdo, alta noite, Invoco a que se esconde: Marta! Marta! Onde estás?
Sinto que hoje novamente embarco Para as grandes aventuras, Passam no ar palavras obscuras E o meu desejo canta --- por isso marco Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo Aquele mundo Que eu sonhara e perdera Espera O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos Das mentiras alheias, Finalmente solitárias, As minhas mãos estão cheias De expectativa e de segredos Como os negros arvoredos Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando A voz das coisas que eu sei amar.
Ligo directo para a caixa de correio só para ouvir a tua voz, Sei que é cena fora mas todo o dia chega a hora em que o lado esquerdo chora quando se lembra de nós A vida corre tranquila, cada vez menos reguila meto guita de parte e a cabeça não vacila tanto Para minha alegria e meu espanto Pode ser que o passado fique por onde deve estar: No pretérito imperfeito, já que não é mais-que- perfeito, Este é um presente que eu aceito Para atingir a tranquilidade Que supostamente se atinge com a nossa idade A verdade é que a saudade do que passou Não é mais que muita... Mas por muita força que faça ela passa por saber que te vivi... Tu deste tudo e eu joguei, arrisquei e perdi Agora,
Muda o teu número, eu mudei o meu, Muda o teu número, eu mudei o meu, Muda o teu número, eu mudei o meu, Muda o teu Mundo que eu mudei o meu.
Cada vez que eu ligo tento deixar mensagem mas acabo por nunca arranjar a coragem Necessária Gostava apenas de partilhar contigo o quotidiano habitual Nada que se compare com as correrias doutras alturas e doutros abismos E já que falo por eufemismos Gostava de dizer que ainda gosto bastante de ti... A casa tá diferente, parece digna de gente Dá gosto sentar no sofá com a tv pela frente Comprei uma máquina de café Xpto, bem bonita, azul bebé Ocasionalmente cozinho e bebo o meu vinho E esqueço o fumo que nos dava aquele quentinho Hoje em dia é mais à base do ar condicionado Condicionei a tentação num clima controlado Quero que saibas que tou bem, sei que tu mais ou menos Sempre gostaste de brincar em perigosos terrenos Em relação a isso eu não sei o que fazer E se calhar é por isso mesmo que acabo por não dizer que a verdade é que a saudade do que passou Não é mais que muita... Mas por muita força que faça ela passa por saber que te vivi... Tu deste tudo e eu joguei, arrisquei e perdi Agora,
Muda o teu número, eu mudei o meu, Muda o teu número, eu mudei o meu, Muda o teu número, eu mudei o meu, Muda o teu Mundo que eu mudei o meu.
Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço em que de penetrar-te me senti perdido no ter-te para sempre - Quanto de ter-te me possui em tudo o que eu deseje ou veja não pensando em ti no abraço a que me entrego - Quanto de entrega é como um rosto aberto, sem olhos e sem boca, só expressão dorida de quem é como a morte - Quanto de morte recebi de ti, na pura perda de possuir-te em vão de amor que nos traiu - Quanta traição existe em possuir-se a gente sem conhecer que o corpo não conhece mais que o sentir-se noutro - Quanto sentir-te e me sentires não foi senão o encontro eterno que nenhuma imagem jamais separará - Quanto de separados viveremos noutros esse momento que nos mata para quem não nos seja e só - Quanto de solidão é este estar-se em tudo como na auséncia indestrutível que nos faz ser um no outro - Quanto de ser-se ou se não ser o outro é para sempre a única certeza que nos confina em vida - Quanto de vida consumimos pura no horror e na miséria de, possuindo, sermos a terra que outros pisam - Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti, recebo gratamente como se recebe não a morte ou a vida, mas a descoberta de nada haver onde um de nós não esteja.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne, A exangue máscara de cera, Cercada de flores, Que apodrecerão - felizes! - num dia, Banhada de lágrimas Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante... A caminho do céu? Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, A lembrança de uma sombra Em nenhum coração, em nenhum pensamento, Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente Que um dia ao lerem o teu nome num papel Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda, - Sem deixar sequer esse nome.
Morrer. Morrer de corpo e de alma. Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne, A exangue máscara de cera, Cercada de flores, Que apodrecerão - felizes! - num dia, Banhada de lágrimas Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante... A caminho do céu? Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra, A lembrança de uma sombra Em nenhum coração, em nenhum pensamento, Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente Que um dia ao lerem o teu nome num papel Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda, - Sem deixar sequer esse nome.
Árvores negras que falais ao meu ouvido, Folhas que não dormis, cheias de febre, Que adeus é este adeus que me despede E este pedido sem fim que o vento perde E esta voz que implora, implora sempre Sem que ninguém lhe tenha respondido?
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
Foto:Pogolsha Mishails
Este blog faz hoje 3 anos. Não sei como ainda dura porque nunca fui de ligações "amorosas" duradouras:)
Nestes 3 anos muita coisa aconteceu, conheci pessoas, cortei com outras, já comentei muito, agora comento pouco, mas de uma coisa tenho a certeza, não posso passar sem a poesia.
Sempre que faço um aniversário edito o poema com que comecei o blog, nem sei porque escolhi este.
Disseste que vinhas E não chegaste Mudaste de planos,ok
Mas isso deitou-me tão abaixo Espero que tenhas pensado bem Estou triste que só eu sei Preciso de alguém
Chaminés pretas deslizam Nas janelas de mais um comboio Casas e pessoas Feias árvores falidas E um céu angustiado Tal é o meu quadro Estou bem chateado
E agora toca a arranjar o buraco Que eu tenho no coração Vou mudar de cenário Que a coisa assim está mal parada Vou procurar calor Mudar de estação
Há-de vir alguém Ao meu encontro na estrada
Pensei tanto em ti Que não calculas De manhã, à tarde e ao anoitecer
Andava louco de contente Só com a ideia de te voltar a ver Ahh, mas que grande idiota Voltei a perder
Procuro no fumo e no vinho A forma de chegar depressa à fronteira Mas sei muito bem que a dor que sinto no peito Não vai com a bebedeira Pus-me a voar a cair Da pior maneira
E agora toca a arranjar o buraco Que eu tenho no coração Vou mudar de cenário Que a coisa assim está mal parada Vou procurar calor Mudar de estação
Há-de vir alguém Ao meu encontro na estrada Há-de vir alguém Ao meu encontro na estrada
Não consigo perdoar nem a ti nem a vida Por negarem-me a oportunidade De descobrir em teu corpo Todo o mistério do universo...
Por que não pude beijar teus seios Fontes de amor e vida? Por que não pude beijar tua alma Pela janela da tua feminilidade? Por que não pude sentir por dentro O mais recôndito do teu corpo Mesmo que fosse por entre fios de látex?
Negar a realização do amor que nos bate à porta É crime de lesa-natureza... E tu serás cobrada por essa recusa Quando perceberes que as efêmeras paixões Que hoje te animam o ser São apenas pálidos reflexos Do que podias Ter e recusaste.
Por causa de tua negativa As estrelas se quedaram silentes; A lua ficou triste, encabulada; O sol amanheceu constrangido.
Toda a natureza sentiu-se negada Pela simples volição de uma mortal! Que poder é esse que o Homem tem De negar o Ser, de recusar-se a criar?
Que poder é esse que te foi dado De negares a realização do amor? Já pensaste que tu poderás querer (e não Ter) justamente o amor que te foi oferecido e que tu simplesmente recusaste?
A tua recusa constrangeu todo o Olimpo Aliás, dos deuses gregos aos romanos De Eros a Afrodite... Deixaste desconcertado o Cupido Profanaste o altar de Vênus.
Mas podes crer que Zeus Que jamais permitiu tanta soberba De uma simples mortal (embora linda) Vai cunhar em etéreas plagas A sentença que encimará tua imagem de mulher E a de todas iguais a ti: "Aqui jaz, neste corpo de mulher o amor estéril que não se pode realizar..."
E esta será tua sina: Ensinar a todas as mulheres Que ao amor não se pode nada negar.
Nunca são as coisas mais simples que aparecem quando as esperamos. O que é mais simples, como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se encontra no curso previsível da vida. Porém, se nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos nos empurrou para fora do caminho habitual, então as coisas são outras. Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso: um desvio no olhar; ou a mão que se demora no teu ombro, forçando uma aproximação dos lábios.
Just before our love got lost you said I am as constant as the northern star And I said, constantly in the darkness Where's that at If you want me I'll be in the bar
On the back of a cartoon coaster In the blue TV screen light I drew a map of Canada Oh, Canada With your face sketched on it twice
Oh, you're in my blood like holy wine You taste so bitter and you taste so sweet Oh, I could drink a case of you, darling And still be on my feet I'd still be on my feet
Oh, I am a lonely painter I live in a box of paints I'm frightened by the devil And I'm drawn to those ones that ain't I remember that time you told me Love is touching souls Surely you touched mine Part of you pours out of me In these lines from time to time
Oh, you're in my blood like holy wine You taste so bitter and you taste so sweet Oh, I could drink a case of you, I could drink a case of you, darling And still be on my feet And still be on my feet
I met a woman she had a mouth like yours She knew your life She knew your devils and your deeds And she said, go to him Stay with him if you care But be prepared to bleed
Oh, you're in my blood like holy wine You taste so bitter and you taste so sweet Oh, I could drink a case of you, darling And still be on my feet I'd still be on my feet
Nunca choraremos bastante quando vemos O gesto criador ser impedido Nunca choraremos bastante quando vemos Que quem ousa lutar é destruído Por troças por insídias por venenos E por outras maneiras que sabemos Tão sábias tão subtis e tão peritas Que não podem sequer ser bem descritas.
Esperança: isto de sonhar bom para diante eu fi-lo perfeitamente, Para diante de tudo foi bom bom de verdade bem feito de sonho podia segui-lo como realidade
Esperança: isto de sonhar bom para diante eu sei-o de cor. Até reparo que tenho só esperança nada mais do que esperança pura esperança esperança verdadeira que engana e promete e só promete. Esperança: pobre mãe louca que quer pôr o filho morto de pé?
Esperança único que eu tenho não me deixes sem nada promete engana engano que seja engana não me deixes sozinho esperança.
Rosa e todas as rimas Rosa e os perfumes todos Rosa no florindo espelho Rosa na brancura branca Rosa no carmim da hora Rosa no brinco e pulseira Rosa no deslumbramento Rosa no distanciamento Rosa no que não foi escrito Rosa no que deixou de ser dito Rosa pétala a pétala despetalirosada
Não sei que diga. E a quem o dizer? Não sei que pense. Nada jamais soube. Nem de mim, nem dos outros. Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas... Seja do que for ou do que fosse. Não sei que diga, não sei que pense. Oiço os ralos queixosos, arrastados. Ralos serão? Horas da noite. Noite começada ou adiantada, noite. Como é bonito escrever! Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto o jeito. Ao acaso, sem âncora, vago no tempo. No tempo vago... Ele vago e eu sem amparo. Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, este sereno luto das horas. Mortas! E por mais não ter que relatar me cerro. Expressão antiga, epistolar: me cerro. Tão grato é o velho, inopinado e novo. Me cerro! Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados, solta a outra, de pena expectante. Uma que agarra, a outra que espera... Ó ilusão! E tudo acabou, acaba. Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda? Silêncio. Nem pássaros já, noite morta. Me cerro. Ó minha derradeira composição! Do não, do nem, do nada, da ausência e solidão. Da indiferença. Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada. Noite vasta e contínua, caminha, caminha. Alonga-te. A ribeira acordou.
No silêncio da terra.Onde ser é estar. A sombra se inclina. Habito dentro da grande pedra de água e sol. Respiro sem o saber,respiro a terra. Um intervalo de suavidade ardente e longa. Sem adormecer no sono verde. Afundo-me,sereno, flor ou folha sobre folha abrindo-se, respirando-me,flectindo-me no intervalo aberto.Não sei se principio. Um rosto se desfaz,um sabor ao fundo da água ou da terra, o fogo único consumindo em ar.
Eis o lugar em que o centro se abre ou a lisa permanência clara, abandono igual ao puro ombro em que nada se diz e no silêncio se une a boca ao espaço.
Pedra harmoniosa do abrigo simples, lúcido,unido,silencioso umbigo do ar.
Aí o teu corpo renasce à flor da terra. Tudo principia.
Haja névoa! Dancem os véus na minha alma (E externos nas luzes próximas, Que se recusam como estrelas na distância). Haja névoa! Paire nela a memória dos maníacos Sonhando na penumbra dos portais Assassínios brutais. Haja, haja névoa! Aqui e além no mar. No mar, nos mares, para que todas as viagens, Para que todos os barcos em todas as paragens, Na iminência dos naufrágios improváveis - Improváveis, possíveis -, Se gastem nos avisos aflitos Das luzes, dos rádios, dos radares, Dos gritos Dos apitos. Haja, haja névoa... Desgastem-se os contornos Das coisas excessivamente conhecidas. Não haja céu sequer. Névoa, só névoa! E eu, nas ruas distorcidas, Livre e tão leve Como se fosse eu próprio a névoa Da noite longa duma existência breve.
Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te vou perdendo a noção desta subtileza. Aqui chegado até eu venho ver se me apareço e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho
Muita vez vim esperar-te e não houve chegada De outras, esperei-me eu e não apareci embora bem procurado entre os mais que passavam. Se algum de nós vier hoje é já bastante como comboio e como subtileza Que dê o nome e espere. Talvez apareça.
A tinta verde cria jardins, selvas, prados, folhagens onde gorjeiam letras, palavras que são árvores, frases de verdes constelações.
Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram como uma chuva de folhas a um campo de neve, como a hera à estátua, como a tinta a esta página.
Braços, cintura, colo, seios, fronte pura como o mar, nuca de bosque no outono, dentes que mordem um talo de grama.
Teu corpo se constela de signos verdes, renovos num corpo de árvore. Não te importe tanta miúda cicatriz luminosa: olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas.
Octávio Paz
Foto:Haleh Bryan
"Roubado" à Gi e mais uma vez aconselho a verem o seu magnífico blog, onde a Arte impera.
Carlos, sossegue, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir ou mesmo suicidar-se. Não se mate, oh não se mate, reserve-se todo para as bodas que ninguém sabe quando virão, se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico, a noite passou em você, e os recalques se sublimando, lá dentro um barulho inefável, rezas, vitrolas, santos que se persignam, anúncios do melhor sabão, barulho que ninguém sabe de quê, praquê.
Entretanto você caminha melancólico e vertical. Você é a palmeira, você é o grito que ninguém ouviu no teatro e as luzes todas se apagam. O amor no escuro, não, no claro, é sempre triste, meu filho, Carlos, mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.
Deixo aqui o link dum post da Eli, sobre a homenagem que se vai fazer a Adriano Correia de Oliveira e onde se ouve a música "Pensamento". Podem também dar uma vista de olhos pelo seu blog Novelos do Silêncio, onde as palavras e a fotografia se "casam":)
A Gi e o Mocho surpreenderam-me ao darem-me o Prémio de Visitante
"Este é um prémio que se destina a todos os nossos visitantes, porque sem eles a blogoesfera perdia toda a sua beleza, toda a importância desta inesgotável partilha de sentimento, ideias, poemas, histórias mais ou menos bizarras e tudo o que nos dá na real gana. Que piada é que isto tinha se ninguém nos lesse e se não houvesse quem opinasse sobre o muito que por aqui se escreve? Este prémio é sem dúvida, um prémio muito bem esgalhado e de grande homenagem a todos os nossos visitantes que guardam sempre um tempinho desta vida agitada, para nos visitar e claro está, ler...mesmo que não comentem!" Palavras do Mocho.
Por estas razões dou o prémio a todos os que lêem este blog:)
PS:Hoje dia 13 a Cristina Também me deu este prémio e agradeço-lhe:)
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora. Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si, o ato que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti, de nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste.
Aponto o dedo para a Lua, e a luz branca escorre, lenta, pelo escuro. No Tejo uma falua, desgarrada, que, condenada, foge do próprio futuro. Nem uma nuvem tolda o meu presente, que desliza, inconsciente, para o nada. O silêncio é a verdade nua e crua. Algures, morre o passado, e eu estou ausente. Com o dedo apontado para a Lua.
Manuel Filipe, in "Tempo de Cinza", pág.51, Apenas Livros
Minha mão está suja. Preciso cortá-la. Não adianta lavar. A água está podre. Nem ensaboar. O sabão é ruim. A mão está suja, suja há muitos anos.
A princípio oculta no bolso da calça, quem o saberia? Gente me chamava na ponta do gesto. Eu seguia, duro. A mão escondida no corpo espalhava seu escuro rastro.
E vi que era igual usá-la ou guardá-la. O nojo era um só.
Ai, quantas noites no fundo de casa lavei essa mão, poli-a, escovei-a. Cristal ou diamante, por maior contraste, quisera torná-la, ou mesmo, por fim, uma simples mão branca, não limpa de homem, que se pode pegar e levar à boca ou prender à nossa num desses momentos em que dois se confessam sem dizer palavra... A mão incurável abre dedos sujos.
Eu era um sujo vil, não sujo de terra, sujo de carvão, casca de ferida, suor na camisa de quem trabalhou. Era um triste sujo feito de doença e de mortal desgosto na pele enfarada. Não era sujo preto - o preto tão puro numa coisa branca. Era sujo pardo, pardo, tardo, cardo.
Inútil reter a ignóbil mão suja posta sobre a mesa. Depressa, cortá-la, fazê-la em pedaços e jogá-la ao mar! Com o tempo, a esperança e seus maquinismos, outra mão virá pura - transparente - colar-se a meu braço.
Allez, venez, Milord! Vous asseoir à ma table; Il fait si froid, dehors, Ici c'est confortable. Laissez-vous faire, Milord Et prenez bien vos aises, Vos peines sur mon coeur Et vos pieds sur une chaise Je vous connais, Milord, Vous n'm'avez jamais vue Je ne suis qu'une fille du port, Qu'une ombre de la rue... Pourtant j'vous ai frolé Quand vous passiez hier, Vous n'étiez pas peu fier, Dame! Le ciel vous comblait: Votre foulard de soie Flottant sur vos épaules, Vous aviez le beau role, On aurait dit le roi... Vous marchiez en vainqueur Au bras d'une demoiselle Mon Dieu!... Qu'elle était belle... J'en ai froid dans le coeur...
Allez, venez, Milord! Vous asseoir à ma table; Il fait si froid, dehors, Ici c'est confortable. Laissez-vous faire, Milord, Et prenez bien vos aises, Vos peines sur mon coeur Et vos pieds sur une chaise Je vous connais, Milord, Vous n'm'avez jamais vue Je ne suis qu'une fille du port Qu'une ombre de la rue...
Dire qu'il suffit parfois Qu'il y ait un navire Pour que tout se déchire Quand le navire s'en va... Il emmenait avec lui La douce aux yeux si tendres Qui n'a pas su comprendre Qu'elle brisait votre vie L'amour, ca fait pleurer Comme quoi l'existence Ça vous donne toutes les chances Pour les reprendre après...
Allez, venez, Milord! Vous avez l'air d'un mome! Laissez-vous faire, Milord, Venez dans mon royaume: Je soigne les remords, Je chante la romance, Je chante les milords Qui n'ont pas eu de chance! Regardez-moi, Milord, Vous n'm'avez jamais vue... ...Mais... vous pleurez, Milord? Ça... j'l'aurais jamais cru!...
Eh ben, voyons, Milord! Souriez-moi, Milord! ...Mieux qu' ca! Un petit effort... Voilà, c'est ca! Allez, riez, Milord! Allez, chantez, Milord! La-la-la... Mais oui, dansez, Milord! La-la-la... Bravo Milord! La-la-la... Encore Milord!... La-la-la...
Talvez o olhar negro e animal que se afunda, ressuscita, em cada vaga, talvez o cão, o arco, a aljava, -guardiães inúteis da cal- reconheçam minha mão, talvez um beijo...
Talvez agora desfaças o novelo, no qual enrolas, desenrolas, o desejo.
Manuel Filipe, in "Escrever é um lugar perto" Vol. III, (Reencontros à mesa do café) pág.38, Apenas Livros e Autores
Foto:Kharlamov Sergey
PS:O único poema neste livro, de Manuel Filipe, que gentilmente mo enviou.